A distante acessibilidade no universo dos games

Publicado em: 25/08/2022


Por: Raquel Paoliello e Viviane Garcia 

Quando falamos do mundo dos videogames, logo vem a nossa mente jogos de consoles ou PCs, e claro, os jogos de smartphones. Jogos que divertem pessoas de todas as idades e nacionalidades. Mas, será que encontramos acessibilidades nesses jogos, para as pessoas com deficiência? 

Nesta breve pesquisa observamos que muito ainda é preciso para que realmente todas as pessoas, com deficiência ou não, possam ter acesso a diversões eletrônicas de cores atraentes e visuais incríveis. Existem várias pessoas com deficiência que gostam de jogos e todas elas deveriam ser contempladas com a acessibilidade, porém isso não ocorre. 

As pessoas com deficiência até podem se divertir realizando downloads de alguns tipos de jogos, como o Super Mario (sobre corridas), Show do Milhão (de perguntas e respostas) e o famoso “Soletrando”, porém os jogadores com deficiência notam que ainda falta muito para a evolução na questão de acessibilidade para os jogos citados e os de grande fama mundial, os quais são os preferidos de campeonatos e premiações pelo mundo. 

Além da exclusão no lado da diversão, a ausência de acessibilidade afeta também o aprendizado, considerando que as crianças que possuem deficiências de origem motora, cognitiva, visual, auditiva, de fala ou de linguagem, ao brincarem e jogarem certos jogos, poderiam superar desafios extremamente relevantes para o desenvolvimento, que também influenciam na equidade de oportunidades. 

Em outras palavras, acessibilidade também é desenvolver meios que permitam a inclusão de indivíduos diversos em variadas atividades, independentemente de sua deficiência.

Primeiros passos para a acessibilidade em games

Há 10 anos, o máximo que se via de acessibilidade em alguns jogos eram legendas e o próprio áudio do jogo em diálogos (quando existiam), para guiar jogadores com deficiência visual, por exemplo. Atualmente tem se falado sobre recursos de acessibilidade no Gameplay, que é um aplicativo de jogos online e, inclusive, há equipes dedicadas para aperfeiçoar esses sistemas – dependendo do orçamento dedicado ao projeto desses games.

A acessibilidade no mercado dos games precisa ser mais difundida e acompanhar a evolução – em setores como o audiovisual por exemplo, algumas iniciativas, por mais tímidas que sejam, já existem, como a audiodescrição e exposições interativas acessíveis.

Nosso entrevistado Matheus Lima, 42, que possui deficiência visual, afirma que nunca observou na grande indústria dos games uma preocupação em tornar acessível nem democratizar a proposta de seus produtos de entretenimento e ainda  ressalta que o universo dos games precisa ser mais divulgado e até reivindicado pelas pessoas com deficiência.

Segundo Lima, atualmente, este mercado é praticamente descartado pelas pessoas com deficiência visual. Isso ocorre unicamente porque são poucas as iniciativas de aproximação deste grupo com a grande mídia e produtoras dos games, especialmente com aqueles jogos de maior sucesso.

Nosso outro entrevistado, Thyerry Marcondes, 34, que possui síndrome de Usher, que afeta a visão e a audição, diz que o mercado dos games não inclui da maneira correta as pessoas com deficiência visual e surdocegas. Ele nos conta também que sempre gostou muito de jogar os dois tipos de jogos: tabuleiro e computador. Recentemente optou por jogos físicos como xadrez. E o game de computador, que costuma jogar é o Super Mario, com controle de videogame vibratório. 

Alternativas aos games eletrônicos e digitais

Viviane Garcia, analista de conteúdo no Instituto Modo Parités, aprendeu a jogar Xadrez no período de isolamento da pandemia Covid19.

Sem acessibilidade digital, as pessoas com deficiência optam pelos jogos acessíveis, como os jogos tradicionais de tabuleiro como: Dama, Xadrez, entre outros.

Por exemplo, no Xadrez para cegos, as regras contam com algumas adaptações: em vez de apenas um tabuleiro, são usados dois, um para cada jogador. Por isso, cada competidor deve reproduzir no seu campo a jogada anunciada pelo adversário. Esta é uma forma de os jogadores não se atrapalharem e conseguirem tatear cada uma das peças, cumprindo assim, uma das diversas regras do Xadrez adaptado para deficientes visuais.

Outra adaptação é feita nas casas do tabuleiro. Os quadrantes pretos possuem altura diferente dos brancos, assim como as peças, que se distinguem no tato. Abaixo de cada uma das peças há pinos que servem para ficar presos nos pequenos buracos do tabuleiro, permitindo que os enxadristas consigam tatear sem se preocupar em bagunçar as jogadas enquanto tateiam as peças, conta Viviane Garcia, analista de conteúdo no Instituto Modo Parités, que possui deficiência visual desde criança e também joga xadrez. “O xadrez é acessível no tabuleiro e nas regras já estabelecidas pela Federação Brasileira de Xadrez para Deficientes Visuais. As partidas oficiais são escritas em braile ou grafadas em gravadores portáteis. Existe ainda o site lichess.org que é acessível para  jogar xadrez por pessoas cegas e não cegas no mundo inteiro, tendo uma linguagem universal, específica para o Xadrez.

O lazer e o entretenimento devem ser direitos garantidos para todas as pessoas e entendemos que muito ainda precisa mudar e, quando falamos e mostramos como as coisas podem ser acessíveis para todos, colocamos as pessoas com deficiência em pé de igualdade com as demais pessoas, para participarem de atividades de diversão. No mundo, estima-se que 1 bilhão de pessoas tenham deficiência e, no Brasil, mais de 40 milhões. Que nossa busca por inclusão alcance também os criadores de jogos de games eletrônicos e físicos e que eles entendam que o consumidor de jogos também pode ser pessoa com deficiência.

Fontes: https://tecnoblog.net/especiais/acessibilidade-em-games-jogos-para-todos-de-verdade/

http://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/sindrome-usher.html

https://deficienciaemfocod.wixsite.com/deficienciaemfoco/post/jogos-acess%C3%ADveis

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