A pessoa com deficiência na mídia – O papel da comunicação para um Brasil mais inclusivo
Publicado em: 16/04/2020
Por Lucas Borba
Com a pandemia do novo Coronavírus, veio à tona com força redobrada a problemática da falta de acessibilidade para pessoas com deficiência nos meios de comunicação. Mesmo com a gradual inserção de recursos como a audiodescrição, que traduz imagens em palavras para pessoas com deficiência visual por meio de uma locução em off, e de legendas descritivas (Closed Caption) para pessoas surdas ou com deficiência auditiva na TV aberta, tais medidas ainda são destinadas quase que exclusivamente a programas de entretenimento, excluindo-se, por exemplo, conteúdo jornalístico, campanhas e comerciais.
Além disso, o recurso de Closed Caption não contempla devidamente pessoas surdas que têm dificuldade com o português escrito e possuem a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) como língua materna – para essas pessoas, o ideal é a presença de intérprete de LIBRAS na tela. Em um país no qual, segundo o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 24% da população (quase 46 milhões de brasileiros) apresenta algum tipo de deficiência, o problema se estende, na verdade, para além da falta de acessibilidade na mídia, e também recai sobre a maneira como geralmente são representadas nesse meio.
Não se pode falar de representação, no entanto, sem primeiro considerar o histórico de exclusão da pessoa com deficiência no Brasil – reflexo, naturalmente, dos séculos de exclusão em nível mundial. Por aqui, essa realidade só começou a ser considerada a partir do século XIX, com a criação do Instituto Benjamin Constant, em 1854, e do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em 1857. E, posteriormente, com o gradual surgimento de uma legislação em prol da pessoa com deficiência, culminando com a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) em 2015. Para Daniela Tavares, bacharel em comunicação com habilitação em Relações Públicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e mestre em comunicação acessível pelo Instituto Politécnico de Leiria, em Portugal, o Brasil avançou no quesito inclusão, mas continua prejudicado pelo paradigma do assistencialismo. “Embora a pessoa com deficiência conquiste um protagonismo crescente, culturalmente ela ainda é pouco vista como autônoma e frequentemente é vitimizada, como alguém de quem se tem pena, ou superestimada na figura do herói”, afirma Daniela, que nota a reprodução desses estereótipos principalmente nos veículos de comunicação tradicionais.
É grande o desconhecimento dos profissionais de comunicação sobre a pessoa com deficiência e a sua legislação. “Para além da agenda jornalística de grandes veículos, que é pautada principalmente pelo viés comercial, o distanciamento entre comunicadores e a realidade da pessoa com deficiência faz com que essa parcela da população seja retratada apenas eventualmente e, na maior parte dos casos, para a promoção de algum produto ou serviço”, observa Daniela.
A internet, por outro lado, surgiu como um espaço alternativo de expressão das pessoas pouco representadas e de produtores de conteúdo independentes. O Youtube vem sendo um grande aliado nesse espaço, permitindo que qualquer pessoa, por si só, tenha como possibilidade tornar sua voz e seu rosto conhecidos no mundo inteiro – inclusive, é claro, pessoas com deficiência. No Brasil, não faltam exemplos de Youtubers com deficiência em plena atividade e com visibilidade crescente, de ativistas como a Gata de Rodas e Selma Rodeguero, artistas como a atriz e cantora Sara Bentes até palestrantes como Ari Protázio (confira os links dos canais abaixo).
Canal da Gata de Rodas: https://www.youtube.com/channel/UCBma4oG6rg5YoS8NR7bv9qw
Canal da Sara Bentes: https://www.youtube.com/user/slmgb/featured
Canal do Ari Protázio: https://www.youtube.com/channel/UCEXEMi1MkUwYLToIHxtsjLw
Canal da Selma Rodegueiro: https://www.youtube.com/channel/UCzihPm3mGN5n-6erYz6b-VA
No campo jornalístico, vale conferir o blog Vencer Limites, um espaço de notícias sobre pessoas com deficiência integrado ao portal Estadão, alimentado pelo repórter Luiz Alexandre Souza Ventura.
Acesse o blog no link: https://brasil.estadao.com.br/blogs/vencer-limites/
A web, entretanto, também não escapa da falta de acessibilidade. Um levantamento feito pela empresa BigData Corp e pelo Movimento Web Para Todos (MWPT) em 2019 apurou que menos de 1% dos sites ativos no Brasil são plenamente acessíveis para pessoas com deficiência, apesar da acessibilidade digital ser uma das determinações da LBI. Além disso, o fator cultural também impacta no comportamento de quem compartilha imagens, gráficos e vídeos online, por exemplo, sem a preocupação de descrever o conteúdo, mesmo que com as próprias palavras, para pessoas com deficiência visual.
É fato que, com a mídia como aliada na construção de um crescente protagonismo da pessoa com deficiência, barreiras culturais e, como consequência, de acessibilidade tendem a ser quebradas com muito mais rapidez. Seja na TV, no rádio, no meio impresso ou digital, cada comunicador pode não só abraçar a inclusão, mas inspirar a sociedade a fazer o mesmo.
Se quiser indicar mais influencers e youtubers que tratam de inclusão de pessoas com deficiência, comente abaixo.