Pesquisadora lança guia para uso da Linguagem Simples que facilita acesso a informação

Publicado em: 10/07/2023


Por Sergio Gomes

A Linguagem Simples um recurso de acessibilidade para pessoas com deficiência intelectual, entre outras. Baixe o Guia no link disponível no final da notícia.

A Linguagem Simples é uma técnica que reúne orientações sobre redação, estrutura, desenho e validação de textos, para tornar a informação acessível a pessoas com dificuldade de compreensão de leitura. É essencial para uma comunicação eficaz, pois permite que as informações sejam compreendidas por todos; especialmente para pessoas com deficiência intelectual e com outras deficiências que leve às dificuldades de aprendizado, como por exemplo: deficiência cognitiva, dislexia e transtorno de déficit de atenção.

Apesar de ser um direito à comunicação, garantido pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência desde 2008, essa técnica ainda é pouco difundida no mundo como recurso de acessibilidade e só nos últimos anos tem ganhado espaço no Brasil. Afinal é uma ferramenta muito necessária, no país, pois de acordo com o Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional de 2018, 29% da população tem problemas de aprendizado. Por isso, foi lançado o guia: “Simples Assim – Comunique com Todo Mundo”, um manual de instruções sobre a linguagem simples.

O material foi criado por Patrícia Almeida junto com sua equipe. Patrícia é Jornalista, Mestre em Estudos sobre Deficiência pela City University of New York e também especialista em Comunicação Digital Acessível pela Universidade Autônoma de Barcelona na Espanha. Foi a partir do nascimento de Amanda, sua filha de 18 anos com Síndrome de Down, que a jornalista se engajou aos movimentos sociais de pessoas com deficiência e percebeu que a sociedade era muito desinformada sobre acessibilidade e inclusão. “Na época eu pensei que a mídia poderia fazer muita coisa para mudar essa realidade”, conta Patrícia. 

Patrícia explica que existem duas vertentes de Linguagem Simples, a Plain-language (Linguagem Clara) e Easy Read (Leitura Fácil). A grande e importante diferença entre as duas vertentes é que na Easy Read é necessário validar a informação com as pessoas para qual esta informação se destina. A validação é fundamental para se atingir os objetivos comunicacionais de um projeto. Para Patrícia: “Qualquer projeto que você comece, tem que ter participação das pessoas com deficiência desde o planejamento. Mas a gente sabe que essa infelizmente, não é a realidade, você não tem uma pessoa com deficiência intelectual ali do lado para participar. Por conta disso é recomendado que os autores do projeto façam a leitura do material produzido junto com, pelo menos, duas pessoas com deficiência intelectual ou outra deficiência que leve a dificuldades de aprendizado”.

Outro ponto importante para destacar é que a Linguagem Simples não envolve apenas textos, mas também o design, ou seja: como escolher adequadamente uma imagem para ilustrar determinado tópico que se quer abordar, assim como um layout mais limpo e melhor organizado, por exemplo. Por isso, a equipe coordenada por Patrícia e que trabalhou na produção do Guia é multidisciplinar, com profissionais da área de educação inclusiva, designers, jornalistas, e foi validado por pessoas com deficiência intelectual. Para ela é importante: “Saber se a pessoa que está lendo o material está entendendo bem, se tem alguma palavra que precisa é mudar, se a ordem das frases está fácil, se não precisa acrescentar mais alguma coisa. Pois, a linguagem é para que qualquer pessoa faça chegar uma mensagem de uma maneira que todos entendam, desde o título, o subtítulo, e todo o texto, incluindo as imagens”.

A Linguagem Simples é uma técnica importante para transmitir informações de utilidade pública como saúde, educação, moradia, entre outros assuntos, principalmente em órgãos públicos, legislações, congressos, escolas, materiais educacionais entre outros. Patrícia explica é a linguagem é uma forma de comunicação que a pessoa bate o olho, já reconhece e entende o que está escrito com a ajuda de ilustrações ou outros recursos visuais. “E você consegue comunicar de maneira correta e verdadeira, antes que alguém venha com uma Fake News. Se, por exemplo, os órgãos públicos, como o Ministério da Saúde publique uma informação sobre vacina fácil de entender, qualquer pessoa que bateu olho vai entender e não será vítima de fakenews”, destaca a jornalista.

Um dos primeiros resultados da disseminação da técnica no Brasil foi a produção, pela Fiocruz, de guias de comunicação acessível e vai elaborar formulários em Linguagem Simples para serem usados inicialmente na Atenção Primária à Saúde a pessoas com deficiência, além de outros materiais, dentro do projeto de pesquisa do Programa de Políticas Públicas, Modelos de Atenção e Gestão do Sistema e Serviços de Saúde da Vice-Presidência de Pesquisa e Coleções Biológicas.

Em março de 2021 foi criada a Rede de Linguagem Simples, reunindo pessoas interessadas para disseminação da prática. E em dezembro de 2022, a Assembléia Geral da ONU adotou a resolução proposta pelo Brasil para promoção da Linguagem Simples como forma de acessibilidade para pessoas com deficiência. Além disso, a Organização Internacional para Padronização prepara uma Norma Internacional sobre o assunto que será lançada em breve.

Guia Simples Assim – Comunique com todo mundo!

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Palestra com Patrícia Almeida sobre Linguagem Simples na Secretaria da Pessoa com Deficiência do Município do Rio de Janeiro:

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