Carnaval e inclusão dá samba e emprego para pessoas com deficiência
Publicado em: 20/02/2025
Por Sergio Gomes para o site da Câmara Palista de Inclusão
O Carnaval no Brasil é a maior festa popular e um dos mais grandiosos espetáculos do planeta. Com seus blocos, desfiles das escolas de samba e diversas outras manifestações que acontecem em todo o país, a celebração é um marco da cultura brasileira. Já as escolas de samba, pilares da cultura brasileira, são mais do que apenas agremiações dedicadas ao Carnaval. Elas representam centros de liderança comunitária que promovem inclusão e diversidade. Através de suas atividades, envolvem milhares de pessoas de diferentes origens e idades, fortalecendo laços sociais e culturais.
Além de sua grandiosidade, o Carnaval também é um evento diverso e inclusivo. Nos bastidores, mas não só neles, há pessoas com deficiência que trabalham para que a festa aconteça, assim como há aquelas que participam ativamente das comemorações. Dar visibilidade a essas pessoas e garantir que elas possam desfrutar e contribuir com o Carnaval é essencial para fortalecer a inclusão e celebrar a diversidade que essa festa tão especial representa.
As escolas de samba surgiram no início do século XX nas comunidades afro-brasileiras do Rio de Janeiro. Dessa forma, elas se consolidaram como espaços de resistência cultural e social, oferecendo uma plataforma para a expressão artística e a celebração das tradições afro-brasileiras. Para isso, a liderança comunitária dessas escolas tem sido fundamental para preservar e promover a herança cultural, ao mesmo tempo em que abraçam a diversidade.
E quando falamos de investimentos e da criação de postos de trabalho estamos falando em oportunidades e geração de renda também para as pessoas com deficiência. Existem até mesmo escolas de samba voltadas para esse público. A escola “Embaixadores da Alegria” não é exclusiva para pessoas com deficiência, mas garante que as pessoas com deficiência tenham mais espaço nos desfiles, assumindo também o protagonismo na folia. A escola reúne entre 1,2 mil a 1,4 mil componentes de diferentes instituições do Rio de Janeiro e de outras cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, que são separados por alas, misturando pessoas com e sem deficiência. Cerca de 280 integrantes compõem a bateria. Há também um casal de mestre-sala e porta-bandeira cadeirante e a rainha de bateria com Síndrome de Down. E ainda tem dois casais de mestre-sala e porta-bandeira, em que, pelo menos, um componente tem alguma deficiência.

Ações dentro do desfile foram criadas exclusivamente para garantir acessibilidade de acordo com as características de cada deficiência. Há um time de harmonia especial composta de fisioterapeutas, professores de educação física, psicólogos, que cuida da acessibilidade e inclusão emocional. E também um time de harmonia de carnaval, composto por profissionais experientes do mundo do samba, cuidando da evolução e da qualidade do espetáculo. Para as pessoas com deficiência auditiva, há ainda uma equipe de intérpretes de Libras que traduz o samba ao vivo na Sapucaí.
“Cerca de 18 mil pessoas foram beneficiadas com os nossos desfiles acessíveis. A gente sempre trabalha com todos os tipos de deficiência e, também, com parentes e amigos sem deficiência. A gente defende os direitos da pessoa com deficiência através da criatividade e da cultura”, disse à Agência Brasil Caio Leitão, cofundador da agremiação junto com o inglês Paul Davies.”
Os protagonistas
Leonardo Marques é diretor de bateria na escola Unidos da Mooca, escola de samba de São Paulo. Ele nos conta um pouco de sua trajetória como músico do Carnaval: “São várias escolas tocando e começou assim minha trajetória no Carnaval. Eu era da ala das crianças, mas eu deixava de ficar no ensaio da ala das crianças, treinando canto. Ensaiando canto, ensaiando coreografia para poder ficar ali do lado da bateria, pegando a gente, o som do tamborim… Essa era a minha paixão. E a partir daí, eu comecei a desfilar, eu colava muito com a minha mãe, na X- 9, Paulistana que hoje é minha escola do coração. Já na Império de CasaVerde eu também desfilo com o Zoinho, que é o Mestre até hoje. Lá, o Fábio é super atencioso e receptivo comigo, assim como o Sam, que era diretor de tamborim na época em 2006. Eu sempre tive o sonho de ser igual Fábio, diretor de tamborim, de ser igual Sam, diretor de tamborim também”.

Outra escola que também garante acesso e protagonismo é Camisa 12, agremiação que nasceu dentro da torcida do Corinthians, homônima. Em 2023 o enredo da Camisa 12 foi a luta pela inclusão das pessoas com deficiência. Já na Escola Rosas de Ouro: “É maravilhoso a pessoa se sentir realmente incluída, perceber que ‘ah, eu tenho uma limitação’, seja ela qual for, mas eu posso fazer parte daquilo”, disse Ricardo Tadeu de Paiva, jovem com deficiência física, componente da ala. “Eu plantei uma sementinha e a sementinha está dando frutos, porque tem aqui na Rosas de Ouro, tem em outras agremiações”, diz Vanessa Dias, diretora de projeto social da Rosas de Ouro.
A indústria do Carnaval também é inclusiva
Do ponto de vista da economia e do trabalho, no Brasil o Carnaval movimenta bilhões de reais, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio) ela estima que só no setor de turismo o Carnaval em 2024 movimentou 9 bilhões de reais e eles esperam um aumento de 2,1% para o carnaval de 2025 atingindo a cifra de 12,03 bilhões de reais. O Carnaval cria no país 66.699 postos de trabalho temporários e com uma taxa de efetivação de 3,1%.
Pode-se dizer que há uma indústria do carnaval no Brasil e Leonardo, quando perguntado se a indústria do Carnaval tem potencial para ajudar na inclusão de pessoas com deficiência ele explica: “Cara pode ajudar não só pode, como tem muito potencial pra ajudar. Me incomoda muito ver pessoas com deficiência somente em alas inclusiva, apesar de eu achar muito legal a iniciativa, me incomoda muito. Por que um cadeirante não pode desfilar numa ala com pessoas que não possuem deficiência? Por que um cadeirante, um cego, um, enfim. É qualquer deficiência, pessoa com qualquer tipo de deficiência. Por que nós não podemos estar no meio de uma bateria? Se você for procurar hoje, se você for procurar ritmistas, e com deficiência, você além de mim vai encontrar muitos poucos, muitos poucos. Tem o Vic, o Alessandro, o Marcos Rossi, que às vezes desfila na Dragões da Real, mas enfim, é muito limitado. Eu tenho certeza que é muito mais por medo, é da pessoa com deficiência, ingressar com medo de preconceito, algo do tipo, e também por muito medo da escola também. De uma pessoa com deficiência atrapalhar, evolução, algo do tipo. Então eu acho que pode ajudar, mas falta muita coisa que precisa ser feito”.
Pertencimento e lugar de fala
As participações de pessoas com deficiência nas festividades do Carnaval são consideradas por muitos como algo terapêutico e que ajuda muito no senso de pertencimento e inclusão na sociedade. Érica Andréa Martins, conhecida como Mona, é atriz, performer e também cadeirante, conta como o samba e arte influenciam sua vida: “Eu acredito que a música, a dança e a arte propriamente dita estão em minha vida sempre. Ela melhora a qualidade de vida de qualquer pessoa. Qualquer indivíduo, qualquer pessoa que queira e se permita transmutar e entender a arte. Melhora muito a sua qualidade de vida. Eu sou o que sou porque a arte permeia a minha existência. A arte me faz entender que eu posso tudo aquilo que eu quero. Então, com essa máxima não tem como você não viver bem, não se amar, entender as suas talvez dificuldades como especificidades, entender a deficiência não como deficiente, mas como um ser diverso”.
Pessoas com deficiência participando do Carnaval, seja na avenida, desfilando, ou seja, nos bastidores, na indústria do carnaval é uma prática que deve ser estimulada e apesar dos avanços nos últimos anos ainda é algo que precisa ser ampliado, garantindo acessibilidade não só nos locais físicos onde acontece a folia, mas também na comunicação e dando visibilidades e protagonismo às pessoas com deficiência e condições para que possam participar de forma plena da grande festa, tendo como objetivos a inclusão Com mais oportunidades e apoio, as pessoas com deficiência podem ter um papel ainda mais importante no carnaval, mostrando seu talento e sua paixão pela folia.
“É maravilhoso a pessoa se sentir realmente incluída, perceber que ‘ah, eu tenho uma limitação’, seja ela qual for, mas eu posso fazer parte daquilo”, diz Ricardo Tadeu de Paiva, componente da ala inclusiva da Rosas de Ouro.