“Enquanto as pessoas com deficiência não entrarem na luta pela saúde pública e outras soluções, a gente fica em segundo plano” diz presidente do CMPD

Publicado em: 21/12/2023


Para o site da Câmara Paulista para Inclusão, por Sergio Gomes

Presidente do CMPD de São Paulo aponta maiores desafios para pessoas com deficiência, as dificuldades de acessar as pessoas com deficiência da periferia e conclama todas para se engajarem com a luta pelos direitos.

O Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência (CMPD) atua junto à população, principalmente das pessoas com deficiência, e o poder público, em uma luta constante por direitos das pessoas com deficiência. Em entrevista a Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa com Deficiência, Marly Santos, presidente CMPD da cidade de São Paulo, explica um pouco mais sobre seu trabalho e o do conselho.

“O meu trabalho é de articulação entre os conselheiros e o Governo Municipal. Eu participo de muitas reuniões com órgãos do governo, associações e outros Conselhos também. A gente tem que articular com todas as Secretarias, com todos os Conselhos que existem [no município], porque em todos os conselhos, geralmente, tem uma pessoa com deficiência, e se não tem é interessante que seja feito um trabalho sobre a pessoa com deficiência, porque elas podem ajudar também. Então meu papel é mais de articular entre a sociedade civil e o governo municipal.

Marly Santos conta que os problemas enfrentados pelas pessoas com deficiência são enfrentados por ela também. O maior dos desafios para as pessoas com deficiência em São Paulo, segundo sua análise, é a saúde. “As pessoas com deficiência, e eu me incluo nessa, têm problemas que vão aparecendo com a idade. São problemas que vêm, e vêm com força, e é difícil conseguir agendamento, você sabe que a saúde pública está muito bagunçada, então para se conseguir uma consulta, um exame principalmente, são muitas pessoas com deficiência que precisam de um exame de grande complexidade, está difícil. Por isso que eu sempre falo que as pessoas com deficiência têm que lutar pelo SUS, um SUS mais justo, melhor, porque enquanto as pessoas com deficiência não entrarem na luta a gente fica à margem. Aliás, para falar a verdade, as pessoas com deficiência têm que se unir mais, porque não só na saúde, [também] no trabalho, no transporte em todas as outras [áreas]. As pessoas com deficiência têm que se ajudar, por exemplo: eu tenho deficiência física, eu não posso olhar só para a minha deficiência, eu tenho que lutar por todas as pessoas com deficiência e infelizmente em nosso país ainda cada uma luta pelo seu ‘umbigo’ e isso é muito triste.”

 Marly também mostra preocupação com as pessoas com deficiência que estão na periferia da cidade e informa que haverá uma nova forma do Conselho atuar para facilitar o acesso de pessoas das periferias. “O Conselho,  neste novo formato que está agora,  ele vai ter os comitês regionais, cada subprefeitura, por exemplo, vai ter uma série de representantes dos conselhos, vai ser gente escolhida por nós, da periferia, para trazer as demandas. porque aqui no Centro de São Paulo, nos bairros mais próximos ao Centro é muito mais fácil a gente conseguir as coisas. O Conselho está aqui, a gente briga, a gente luta, e bem ou mal a gente consegue, mas quem mora na periferia não consegue nada, são pessoas que estão à margem da sociedade, então a gente tem esse braço do Conselho lá para trazer as demandas, para podermos lutar por essas pessoas, porque tem pessoas na periferia, da periferia, se eu posso dizer assim, que nem sabem que o Conselho existe isso é muito triste, pois é onde mais precisa estar [o CMPD].”

Marly também fala sobre os processos para interagir com as pessoas através das redes sociais e ela cita alguns problemas relacionados a isso, como a falta de acesso à internet. “A gente procura usar as redes sociais. O conselho tem as redes sociais, Instagram e Facebook e a gente procura colocar nessas redes todas as informações do Conselho, mas infelizmente aonde eu quero que o Conselho chegue, que é naquela periferia, as pessoas não têm acesso à informação, às redes sociais, porque são pessoas muito pobres e são muito desassistidas mesmo. Por exemplo, se eu falar assim: ‘Eu vou fazer uma entrevista virtual com a pessoa lá da ponta para ver o que ela pensa’. Eu não vou conseguir porque essas pessoas não têm internet, não têm dinheiro para colocar créditos no celular para fazer [a entrevista] e isso é uma coisa que a gente pode mudar, levando conhecimento para eles lutarem.”

Marly encerra falando sobre a importância da interação das pessoas com deficiência e o Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência e como o mais simples dos comentários pode ajudar tanto os munícipes quanto o CMPD. “Eu queria dizer que nós, conselheiros, estamos prontos para ouvir a todos, as pessoas principalmente da periferia. Eu acho que nós estamos sempre abertos para ouvir para tentar absorver o problema e tentar arrumar soluções, então, eu quero dizer a todos que procurem o Conselho, procurem um conselheiro ou uma conselheira, porque isso vai trazer soluções… às vezes a pessoa só fala uma coisa, o comentário que ele faça pode parecer ‘bobo’, mas que para eles é muito importante que a gente traga isso para cá e lute para melhorar a vida das pessoas.”

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