Dia do orgulho e conscientização pode salvar vidas de pessoas com autismo

Publicado em: 11/06/2025


“Não desista de lutar pelos direitos do seu filho, filha ou familiar. A sociedade não está pronta pra acolher, por isso precisamos continuar persistindo. E saibam que vocês não estão sozinhos ou sozinhas nessa jornada!“, Ana Carolina Deodato, idealizadora da Associação Unidos pela Neurodiversidade

Por Sergio Gomes para o site da Câmara Paulista de Inclusão

Ana Carolina Deodato, idealizadora da Associação Unidos pela Neurodiversidade

Amar uma pessoa com autismo é entender que o mundo dela é tão real quanto o nosso, apenas o expressa de forma diferente”- Stuart Duncan (músico)

Dia 18 de junho se comemora o Dia Mundial do Orgulho Autista, data que pode criar uma confusão com Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo celebrado em 02 de abril, mas que têm diferenças importantes e por isso são duas. Enquanto o Dia Mundial de Conscientização tem como objetivo aumentar a conscientização pública sobre o autismo e também enfatizar a atenção no diagnóstico precoce, inclusão e combate ao preconceito, o Dia Mundial do Orgulho Autista tem como objetivo celebrar o autismo como identidade neurodiversa e valorizar a vivência autista. A data foi criada em 2005, pela ONG americana Aspies for Freedom e a ênfase é na luta por empoderamento, auto aceitação e direitos civis das pessoas com autismo.

No Brasil a data está começando a ser mais divulgada entre as pessoas com autismo e seus familiares. Para a Ana Carolina Deodato da Silva, mãe de um filho com autismo e idealizadora da Associação Unidos pela Neurodiversidade, localizada no Sul de Minas Gerais: “Promover o orgulho autista é essencial para continuar na luta pelos direitos de quem tem autismo, combatendo a desigualdade, capacitismo, a discriminação e o preconceito. Essa data também é importante para valorizar cada pessoa em sua individualidade, lembrando de respeitar suas limitações e sentir orgulho de suas conquistas”.

Já é consenso que autismo não é algo a ser curado, por isso, é urgente mudar a errônea ideia de “déficit” que a sociedade têm sobre o autismo, pela ideia de “diversidade humana”, conhecida como neurodiversidade. O termo é usado desde 1998, pela socióloga australiana Judy Singer para nomear não apenas a pluralidade neurológica, mas também os movimentos sociais das minorias neuroatípicas por seus direitos. Dentro da diversidade humana, existem os neurotípicos e aqueles que são neurodivergentes. Os neurotípicos são aquelas pessoas que apresentam o funcionamento neurológico de acordo com padrões esperados pela sociedade. Enquanto que e os neurodivergentes são aquelas pessoas com o funcionamento neurológico diferente do considerado típico, como as pessoas dentro do TEA (Transtorno do Espectro Autista) ou com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade).

No caso do autismo, a interseccionalidade significa que uma pessoa autista pode experimentar o autismo de forma diferente de outra pessoa autista, dependendo de outros fatores sociais, como seu gênero, raça, classe social ou orientação sexual. 

Orgulho pelas conquistas

O Dia do Orgulho Autista também é importante para lembrar as lutas e barreiras que as pessoas com TEA ainda enfrentam, como acesso a uma educação inclusiva e também as dificuldades e obstáculos para ingressar e permanecer no mercado de trabalho. É comum também que pessoas dentro do espectro autista ainda sejam estigmatizadas como “esquisitas, antissociais” e outros rótulos que podem dificultar bastante suas relações interpessoais em várias esferas de suas vidas. Para Carol: “Ter um filho com autismo em uma sociedade capacitista é extremamente difícil e desgastante. Principalmente por ter que ficar dando explicações sobre os motivos pelos quais meu filho apresenta determinados comportamentos. Por isso, é extremamente importante continuar conscientizando a sociedade, para que haja empatia e acolhimento”.

As lutas das pessoas com TEA, assim como as das outras pessoas com deficiência são constantes no Brasil, a mais recente foi a Lei 13.977, conhecida como Lei Romeo Mion, que cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista, um recurso muito útil, pois não há como identificar o autismo apenas visualmente. A importância dessa lei é para evitar problemas para as pessoas com TEA terem acesso a serviços prioritários aos quais têm direito, como estacionar em uma vaga para pessoas com deficiência.

Também existe a Lei nº 12.764/2012 (Lei Berenice Piana) que criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Esta lei federal garante a todas as pessoas com autismo: ter uma vida digna e respeitada; integridade física e moral, o livre desenvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer. Além da proteção contra qualquer forma de abuso e exploração e o direito à educação, à moradia e ao mercado de trabalho. Porém na prática cotidiana não é isso que acontece. E a maioria ainda está presa em bolhas, sem ter suas particularidades e limitações respeitadas.

Carol deixa uma mensagem para familiares e cuidadores das pessoas com autismo: “Não desista de lutar pelos direitos do seu filho, filha ou familiar. A sociedade não está pronta pra acolher, por isso precisamos continuar persistindo. E saibam que vocês não estão sozinhos ou sozinhas nessa jornada! Nós vemos sua dor, suas angústias e frustrações perante os desafios da Maternidade ou Paternidade Atípica. Sintam-se abraçadas, abraçados, acolhidas e acolhidos”.

A diversidade dentro da neurodiversidade

O autismo nem sempre foi considerado uma identidade incluída na interseccionalidade, mas isso mudou enormemente. Raça, etnia, sexualidade e gênero são áreas diferentes que também podem formar uma variedade de identidade. Por exemplo, existem pessoas com autismo que podem se identificar como autista, e também pode se identificar como membro da comunidade negra e da comunidade LGBTQIA+. Ter essas identidades diferentes significa que esta pessoa experimentará o mundo de maneira diferente das outras pessoas. Autismo e raça também são algo que precisa ser falado mais abertamente. Hoje há cada vez mais defensores negros autistas falando sobre as suas experiências e esperamos que, no futuro, haja mais consciência para questões relacionadas com o autismo e as raças não-brancas.

Instagram da Ana Carolina Deodato: 

@caroldeodatodasilva

Informações:

https://ufmg.br/comunicacao/assessoria-de-imprensa/release/pesquisa-da-ufmg-analisa-a-interseccionalidade-entre-autismo-e-transgeneridade-no-twitter

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