Empresa capacita pessoas com autismo para a inclusão profissional

A Specialisterne foi fundada há 13 anos por Thorkil Sonne, dinamarquês que trabalhava na área de TI e cujo filho de 7 anos, com autismo, passou a demonstrar habilidades para certas tarefas que as pessoas em geral acham monótonas, repetitivas ou exigentes demais. A partir dessa constatação, ele passou a criar um método através do qual a capacidade sócio-laboral de pessoas com TEA – Transtorno do Espectro do Autismo, era potencializada para diferentes setores, principalmente Tecnologia da Informação. Testado pela Escola de Negócios da Universidade de Harvard, o método foi recomendado para as empresas devido ao impacto que causa para as pessoas com autismo empregadas e também para os setores que os contratam.

A equipe de treinamento da Specialisterne é formada por psicólogos que seguem o protocolo específico do método. No Brasil, a empresa opera há mais de um ano, e tem projetos com empresas como a SAP e a HP. “Temos 13 consultores formados e, em 2017, mais 35 devem ser incorporados ao mercado de trabalho”, informa Marcelo Vitoriano, diretor geral da empresa no Brasil. A capacitação aproveita as competências das pessoas com TEA/autismo para tarefas que precisam de concentração durante longos períodos de tempo, ações repetitivas, reconhecimento de padrões, e detecção a desvios de dados, ou seja,  que exigem atenção aos detalhes e aperfeiçoamento de processos.”Se precisar encontrar a agulha no palheiro, capacite um autista e ele encontrará”.

No mercado mundial, o método já inseriu mais de 1.000 pessoas com TEA no mercado de trabalho . “Além da parceria com a SAP e  HP atendemos a Microsoft e a  Everis, entre outras empresas gigantes da área de tecnologia” , destaca Pablo Mas, diretor de Operações para a Amárica Latina. As principais atividades das pessoas com autismo formadas pela empresa no Brasil são digitação de documentos e testes de softwares,  telefones celulares, dispositivos médicos e outros equipamentos.

O próximo curso começa no dia 2 de maio

Os interessados em aprender o método da Specialisterne precisam apresentar um diagnóstico formal de TEA e ter autismo de alto funcionamento, ou Síndrome de Asperger – quadro mais leve do transtorno, não associado à deficiência intelectual. Também é essencial ter interesse pela área de tecnologia. “Infelizmente, não conseguimos ajudar todos que gostaríamos com o projeto”, afirma Marcelo Vitoriano.

O próximo curso começa no dia 2 de maio. O treinamento dura cinco meses e abrange formação técnica (como a especialização em teste de software e introdução à linguagem de programação) e sócio-laboral. Esta última trabalha assuntos práticos como o cumprimento de horários, código de vestimentas e também regras de comunicação e interação social. As empresas que vão receber os profissionais com TEA também são apoiadas no processo. “Os gestores são orientados a ser muito claros nas instruções, evitar ambiguidades, antecipar mudanças e trocas de projetos, por exemplo. E só pelo fato de fazer esse pequeno esforço, eles se tornam líderes melhores, porque aprendem a lidar com situações diferentes”, afirma Pablo Mas, diretor de operações.

Um estudo publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders em 2014 concluiu que 87,5% dos jovens autistas que recebem suporte conseguem se colocar no mercado de trabalho, contra apenas 6,2% dos que não têm ajuda. “Potencializadas, as características das pessoas com TEA permitem que elas tenham um rendimento acima da média em determinadas tarefas”.

Depoimento de Iago Brunherotto (23 anos) – Consultor Técnico em TI Junior da Specialisterne

Descrição de Imagem: Fotografia de Iago Brunherotto, um homem jovem de cabelos escuros curtos e barba por fazer. Ele veste uma camisa vermelha com uma blusa de lã cinza por cima e usa óculos.

Iago, 23 anos. Trabalhando e com planos para o futuro

 

“A oportunidade da minha capacitação surgiu no momento certo, quando minhas expectativas de inserção no mercado de trabalho estavam diminuindo a cada dia, devido a frustrações acumuladas,  a ponto de não querer me candidatar a mais nenhuma vaga. Foi quando minha mãe soube de uma empresa que poderia me inserir no concorrido mercado de trabalho.

Ao fim do processo de formação na Specialisterne, tive a oportunidade de atuar como consultor em uma empresa muito grande, referência no seu setor de atuação. No início não tinha muita esperança de ser incluído, mas as etapas do processo de entrada foram evoluindo, todas as minhas expectativas foram sendo superadas ao longo dos meses e para a minha surpresa fui aprovado na entrevista e estou trabalhando. Agora me sinto feliz e, confiante, já tenho planos maiores para o futuro”.

 

Adultos desempregados

Não há um estudo que mensure a quantidade de pessoas com autismo no Brasil. No mundo, porém, uma em cada 68 crianças é diagnosticada com o transtorno, segundo cálculos do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), agência do departamento de saúde do governo norte-americano. Seguindo essa conta, o Brasil teria cerca de 2,9 milhões de pessoas com autismo. Estimativas feitas pela ONU em 2016 apontavam que 80% dos adultos com autismo estavam desempregados. “A pessoa com autismo tem dificuldades em entrevistas de emprego e, quando é aprovada, acaba enfrentando um ambiente hostil, que não entende. Ela demanda uma comunicação clara, direta, sem piadas, e não é isso que normalmente se encontra no mundo corporativo”, explica o diretor da empresa.

 

Por Stela Masson, 24/03/2017

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