‘Ali eu faço de tudo’, diz médico paraplégico que trabalha na linha de frente ao Coronavírus

Publicado em: 05/05/2020


O Brasil tem cerca de 512 médicos com algum tipo de deficiência, segundo o Conselho Federal de Medicina. A OMS aponta que pessoas com deficiência podem estar mais expostas à contaminação pelo Covid-19.

Repost adaptado do Portal G1 (Por Laís Modelli)

 

O médico potiguar Heider Irinaldo Ferreira, de 39 anos, é paraplégico e atende pacientes de Coronavírus em hospitais de Mossoró e do interior do Ceará.

 

“Atuo em enfermarias destinadas ao Covid-19. Ali, faço de tudo. Faço atendimento clínico. Quando precisa, entro nas áreas de isolamento. Se precisar entubar paciente, eu entubo”, diz o médico.

 

Segundo a Organização Mundial da Saúde, OMS, pessoas com deficiência podem estar mais expostas à contaminação pelo Covid-19 quando necessitam da ajuda de outras pessoas ou de meios de locomoção como cadeira de rodas, andador e bengala.

 

Por isso, em tempos de coronavírus, o potiguar precisa se preocupar em não contaminar sua cadeira de rodas, objeto que toca com muita frequência.

 

“Tenho duas cadeiras de rodas. Uma eu uso somente para trabalhar. Quando chego em casa, deixo ela na garagem e passo para a outra, que uso somente dentro de casa”, explica o médico. “Quando preciso entrar no setor de isolamento, deixo minha cadeira de rodas e pego uma do hospital.”

 

Além do maior risco de contaminação, Heider também enfrenta barreiras físicas no trabalho. “As macas do SAMU são altas e abaixam pouco, assim como algumas camas hospitalares”, diz.

 

Antes de começar cada plantão, o profissional precisa checar se as alturas das camas do setor da emergência estão acessíveis a ele.

 

“Quando não consigo examinar alguma parte do paciente, como os olhos, por causa da altura das camas e macas, peço que um colega me auxilie”, conta Heide.

 

O médico se formou pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte em 8 de abril. Ele e mais 27 alunos colaram grau por meio de uma videoconferência e foram liberados para trabalhar no enfrentamento ao Covid-19 no dia seguinte.

 

Médicos no Brasil com deficiência, segundo o CFM, separados por tipo de deficiência:

 

  • 95 têm deficiência visual
  • 91 têm deficiência auditiva
  • 287 têm deficiência motora
  • 77 têm “outras” deficiências (CFM não especifica quais são)

 

“Tive medo de me dispensarem”

 

O auxiliar de radiologia Kleber de Menezes, de 40 anos, é uma pessoa com deficiência visual e trabalha há mais de seis anos no Hospital Estadual Carlos Chagas, no Rio de Janeiro. Ele conta que ficou com receio de ser afastado quando o estado começou a ter casos de Coronavírus.

 

“Tive medo de me dispensarem do trabalho no hospital por causa do Coronavírus por ser uma pessoa com deficiência”, diz o auxiliar de radiologia.

 

“Acontece que o serviço de saúde se tornou mais essencial ainda. Nós, profissionais da saúde com deficiência, também somos úteis, principalmente agora. Não quero ser tratado como coitado ou discriminado neste momento”, afirma Kleber.

 

Igual ao médico Heider, Kleber precisa de um meio de locomoção e utiliza uma bengala para andar desde que perdeu a visão, aos 13 anos. “Eu tomo os devidos cuidados a todo momento, uso luvas, carrego álcool em gel comigo, higienizo minhas mãos e bengala sempre.”

 

“Não tenho medo de me infectar por Coronavírus enquanto estou trabalhando. Pode acontecer comigo? Pode, mas também pode acontecer a qualquer outro profissional do hospital”, diz.

 

Pessoas com deficiência não são consideradas grupo de risco ao Coronavírus pelo Ministério da Saúde, mas somente aquelas que tenham algum dos fatores associados:

 

  • Restrições respiratórias
  • Dificuldades nos cuidados pessoais
  • Condições autoimunes
  • Idade acima de 60 anos
  • Doenças associadas como diabetes, hipertensão arterial, doenças do coração, pulmão e rim ou doenças neurológicas
  • Estiverem em tratamento de câncer

 

Cuidados que pessoas com deficiência devem adotar contra o Coronavírus

 

Além dos cuidados gerais recomendados pela OMS, como lavar as mãos com água e sabão por 20 segundos ou com álcool em gel, usar máscaras, fazer isolamento social e não tocar nariz e olhos, o Ministério da Saúde também indica às pessoas com deficiência:

 

  • Tanto os meios de locomoção como bengalas, muletas e andadores, assim como o aro de impulsão de cadeira de rodas, as órteses e próteses devem ser desinfetadas com água e sabão ou álcool 70% constantemente.
  • Ao receber ajuda, pessoas com deficiência visual devem tocar o ombro da pessoa que os guiará, e jamais segurar mão ou cotovelo, já que a recomendação é espirrar ou tossir no meio do braço
  • Para os que se comunicam pela Língua Brasileira de Sinais, Libras, a orientação é não tocar o rosto enquanto conversam
  • Surdocegos que se comunicam usando contato físico, como a Libras Tátil, devem higienizar as mãos e antebraços quando forem se comunicar

 

O Ministério da Saúde informou que não tem dados sobre pessoas com deficiência infectadas e mortas em decorrência do Coronavírus. Questionada sobre a existência de protocolos de atendimento à população com deficiência, a pasta não se pronunciou.

 

“O Ministério da Saúde não tem este nível de detalhamento dos casos confirmados e óbitos por Covid-19”, disse sua assessoria.

 

Fonte: https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/05/04/ali-eu-faco-de-tudo-diz-medico-paraplegico-que-trabalha-na-linha-de-frente-ao-coronavirus.ghtml

Voltar para Notícias