Clientes e colegas de trabalho demonstram preconceito, segundo pesquisa no varejo de alimentos

520 pessoas foram consultadas em 22 lojas, de todas as regiões da capital

Publicado em: 22/01/2017


Identificar fatores que podem engajar profissionais que trabalham em  supermercados, sejam funcionários com ou sem deficiência, e desenvolver ações para reter esses talentos e diminuir o turnover é o que a pesquisa inédita “Engajamento no Varejo Alimentício” apurou, numa iniciativa do Sincovaga (Sindicato do Comércio Varejistas de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo) –  através do programa Coexistir, em parceria com a consultoria Santo Caos. O trabalho, apresentado no dia 7 de dezembro de 2016, no auditório do sindicato, mostrou os resultados de entrevistas realizadas com RHs de empresas, além de colaboradores, clientes e público externo. Ao todo, 520 pessoas foram consultadas em 22 lojas, de todas as regiões da capital, entre maio e setembro de 2016.

Perguntados sobre o motivo que os havia levado a trabalhar em supermercado, os entrevistados com deficiência citaram o encaminhamento via entidades e a oportunidade do primeiro emprego, além da proximidade de casa. Eles relataram terem tido uma boa experiência na entrevista com o RH, porém a acessibilidade das lojas e materiais informativos devidamente adaptados para pessoas com deficiência foram considerados pontos a evoluir.

“Quando se fala em distribuição de cargos, porém, há um desequilíbrio: no caso de profissionais com deficiência, 97% estão em posições operacionais (repositor, caixa e estoque) e para mais de um terço deles este é o primeiro emprego”, explica a coordenadora do Coexistir. Os gerentes, em geral, se sentem pouco preparados para lidar com funcionários com deficiência e quando isso acontece, a empresa acaba enviando mais pessoas com deficiência para sua loja, em vez de treinar os demais líderes.

A maioria dos entrevistados (49%) respondeu que as pessoas com deficiência não podem realizar qualquer função, “já que este público não pode assumir funções de muita responsabilidade, como mexer com dinheiro ou trabalhar no açougue”. Para 20% “depende”, pois como “um funcionário com deficiência não é ágil e hábil ele só poderia exercer funções que não exigissem essas características”. E, por fim, 22% opinaram que é possível, desde que recebam o devido treinamento. E como seria ter um funcionário com deficiência como chefe? Para 17% dos funcionários seria “estranho”, e para outros 24% seria “normal”. Já 60% dos profissionais com deficiência afirmaram que gostariam de se tornar líderes.

Questionados como a empresa poderia melhorar a experiência de funcionários com deficiência, eles listaram a necessidade de contratar mais, melhorar salários, benefícios e a acessibilidade. “Um dos maiores desafios do segmento é a retenção dos profissionais com deficiência.  Algumas empresas já teriam cumprido a cota duas vezes  caso o turnover não fosse tão alto.  Não é uma condição específica dos profissionais com deficiência mas, no caso deles, o impacto é maior”, ressalta Maria de Fátima,  do Coexistir.

“A pesquisa mostrou que a mentalidade como um todo precisa mudar. Sem isso, a cota de contratação será sempre um número inatingível, e a inclusão dessas pessoas, um objetivo distante”, afirma Álvaro Furtado, presidente do Sincovaga. “Esta pesquisa é pioneira no setor e por isso os seus resultados serão essenciais para apoiar as empresas em seus programas, além de aperfeiçoar todo o processo de recrutamento e seleção, garantindo não apenas a ‘oportunidade’, mas o verdadeiro desenvolvimento da carreira dessas pessoas. Isso somente será possível por meio da conscientização”, afirma a coordenadora do Coexistir.

“Um ponto positivo da pesquisa é o quanto o funcionário com deficiência se sente integrado, desenvolve um vínculo emocional com os colegas e com a própria atividade. Por outro lado, o que nos surpreendeu negativamente foi a infraestrutura das lojas, a falta de acessibilidade, que acaba impactando na qualidade do trabalho e na própria motivação do funcionário com deficiência, e isso é pouco discutido. Esse aspecto foi até mais citado que o salário e a jornada”, completou Daniel Santa Cruz, sócio da consultoria Santo Caos, responsável pelo levantamento.

Por Stela Masson, 13/01/2017

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