Coronavírus – ONU alerta sobre cuidados a pessoas com deficiência

Publicado em: 19/03/2020


Especialista afirma que pouco tem sido feito em apoio às pessoas com deficiência contra a doença, apesar de muitas dessas pessoas pertencerem ao grupo de alto risco.

Por Lucas Borba

Com a chegada do Coronavírus ao Brasil e o crescente número de casos registrados, a população, o governo e instituições deram início a uma mobilização nacional em combate à doença. Nesse processo, o acesso à informação de qualidade sobre as medidas de prevenção mais eficazes, bem como o cumprimento à risca de tais medidas, faz toda a diferença para a contenção do contágio, principalmente nas regiões com maior incidência de casos.

Nessa terça-feira (17), o Estado de São Paulo confirmou a primeira morte pelo Coronavírus. O Estado apresenta o maior número de casos de contaminação do país, com 291 ocorrências confirmadas pelo Ministério da Saúde até a última terça-feira (17). Em todo o Brasil, até às 13:16 desta quarta-feira (18), a contagem das Secretarias Estaduais de Saúde chegou aos 370 casos.

Além de medidas preventivas como lavar as mãos constantemente e evitar aglomerações de pessoas, existe um segmento da população que deve adotar medidas adicionais, que são as pessoas com deficiência física com sequelas como poliomielite, lesão medular, esclerose, síndromes variadas, paralisia cerebral, etc. As fragilidades físicas envolvidas em tais quadros, principalmente naqueles que resultam em insuficiência e/ou dificuldade respiratória, tornam esse um público sujeito à maior risco. Nesses casos, há que se tomar medidas extras, como limpar com álcool gel o aro de impulsão da cadeira de rodas, o joy stick da cadeira motorizada, as barras de apoio dos banheiros.

Também no dia 17, a Organização das Nações Unidas (ONU) lançou um alerta mundial sobre os cuidados a pessoas com deficiência durante a crise do Coronavírus. No texto, disponível em vários idiomas (link ao final da matéria), a relatora especial da ONU sobre os direitos das pessoas com deficiência, Catalina Devandas, afirma que pouco tem sido feito para orientar e apoiar o segmento na prevenção contra a pandemia, ainda que muitas dessas pessoas pertençam ao grupo de alto risco.

Um exemplo dessa negligência, segundo a relatora, diz respeito às medidas de contenção. “Distanciamento social e isolamento pessoal podem ser impossíveis para quem precisa de apoio para comer, se vestir ou tomar banho. Esse apoio é essencial para a sobrevivência dessas pessoas e os Estados devem adotar medidas adicionais de proteção social para garantir a continuidade dos apoios de forma segura durante toda a crise”, recomenda a especialista.

Devandas também enfatizou a importância de ajustes razoáveis para que as pessoas com deficiência fiquem em casa e assim reduzam o risco de contaminação. “Elas devem ter permissão para trabalhar em casa ou receber licença remunerada para garantir a segurança de sua renda. Familiares e cuidadores também podem precisar dessas medidas para fornecer o suporte necessário durante a crise. Muitas pessoas com deficiência dependem de serviços suspensos ou não têm recursos suficientes para fazer reservas de alimentos e medicamentos ou pagar os custos adicionais de entregas em domicílio”, explica.

A especialista ainda chama a atenção para o acesso do segmento à informação. “É crucial que as informações sobre como prevenir e conter o Coronavírus sejam acessíveis a todos. As campanhas de informação pública e as informações fornecidas pelas autoridades nacionais de saúde devem estar disponíveis em língua de sinais e outros formatos acessíveis, incluindo tecnologia digital, legendas, serviços de retransmissão, mensagens de texto, leitura fácil e linguagem simples”, conclui Devandas.

Em nota, a ex secretária nacional de promoção dos direitos da pessoa com deficiência e professora de medicina, Isabel Maior, alertou para a necessidade do segmento aplicar as medidas convencionais de prevenção com vigor redobrado.

“Pessoas com dificuldade respiratória devido a condições de impedimento neuromuscular podem não tossir com a força necessária e, como agravante, cair na atitude incorreta de beber pouco líquido, o que aumenta a possibilidade de pneumonia. Além disso, é importante lavar as mãos mais vezes, expelir as secreções respiratórias e procurar atendimento médico antes de qualquer complicação”, recomenda a médica.

Por falar em atendimento, no final de outubro o Governo Federal anunciou a antecipação da Campanha Nacional de Vacinação contra a gripe, que terá início em 23 de março. Com a medida, pacientes que recorrerem às unidades de saúde com sintomas gripais e informarem ter tomado a vacina irão facilitar o diagnóstico do Coronavírus. A partir de 23 de março, a campanha será aberta a idosos e trabalhadores da área da saúde; a partir de 16 de abril, a professores e profissionais de segurança e salvamento; e, a partir de 9 de maio, a crianças de 6 meses a 6 anos, doentes crônicos, pessoas com mais de 55 anos, gestantes, puérperas (mulheres que deram à luz recentemente), população indígena e pessoas com deficiência.

Confira na íntegra o alerta da ONU acessando o link abaixo.
https://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=25725&LangID=E

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