Diagnóstico feito com 13 indústrias da construção pesada mostra que setor pode empregar pessoas com deficiência
Publicado em: 02/06/2016
Estudo elaborado pela socióloga Marta Gil, coordenadora executiva da ONG Amankay – Instituto de Estudos e Pesquisas, e consultora do Sistema S (Sesi, Sesc, Senac e Senai) nas áreas de trabalho e empregabilidade, mostrou que a indústria da construção pesada pode absorver pessoas com deficiência até em canteiro de obras.
Foram pesquisadas 13 indústrias ligadas ao sindicato da construção pesada (Sinicesp) entre as quais Odebrecht, Camargo Correa, OAS e Constran, que assinaram um Termo de Compromisso com o Ministério Trabalho e Emprego (MTE) para se adequar à Lei de Cotas. Nesse compromisso o grupo concordou em promover a acessibilidade dos ambientes de trabalho, sensibilizar seus gestores para a inclusão, capacitar os funcionários para o trabalho com colegas deficientes, e participar do estudo para diagnosticar, entre outras coisas, quais cargos podem ser ocupados por deficientes.
A partir do manual de cargos e salários, começou-se a analisar os tipos de trabalho oferecidos pela indústria da construção que podem ser adequados aos quatro tipos de deficiência (intelectual, visual, auditiva e física). Foram analisadas também as condições de acessibilidade para os funcionários desde o “fretado” (ônibus que leva e traz os empregados), passando pelo refeitório, almoxarifado, administrativo, canteiro de obras, e áreas de lazer, entre outros.
A pesquisa quebrou o tabu sustentado durante anos pelas indústrias da construção pesada, de que por questões de segurança e falta de acessibilidade o setor não poderia cumprir a lei de cotas. “A pessoa já não tem uma perna, vai que chega aqui e perde a outra”, era uma das alegações que mestres de obra davam à equipe coordenada por Marta Gil, durante a pesquisa.
Entre as surpresas apontadas pelo estudo, uma das atividades que se mostrou viável é a de operador de grua: instalado numa cabine a vários metros de altura, o operador se comunica com o pessoal de chão apenas por gestos, função adequada para surdos. Outros exemplos vêm de pessoas com prótese na perna que se adaptaram a várias funções, incluindo subir em postes.
Inclusão é bom para o negócio
Estudos do Instituto Amankay mostram que contratar pessoas com deficiência dá lucro para a empresa. Entre os motivos listados, destacamos: o profissional deficiente muitas vezes trabalha mais, melhora o clima organizacional, motiva a equipe e dá aos demais funcionários a tranquilidade de saber que mesmo que sofram um acidente, a empresa não vai demiti-los, pois contrata deficientes.
Além da sustentabilidade corporativa, a inclusão profissional é positiva para a imagem institucional, pois a sociedade e os consumidores reconhecem e agradecem as marcas que trazem deficientes para seus quadros, seja nas áreas de TI (onde cegos costumam atuar), serviços administrativos, operacionais e obras. A empresa com acessibilidade para todos é mais segura e fácil de trabalhar, portanto aumenta a produtividade e se mostra amigável para todos e não só para o trabalhador com deficiência.
Um dos exemplos positivos vêm da região de Osasco, na grande São Paulo, onde diversas empresas metalúrgicas, mesmo já tendo cumprido a cota de inclusão, continuam a contratar pessoas com deficiência. “Não por caridade, pois empresas não visam a caridade, mas porque mostrou ser bom para a gestão e para o negócio”, afirma Marta Gil.
Como a capacitação profissional para a indústria da construção é oferecida pelo Senai, a apresentação do diagnóstico da pesquisa para as 13 empresas que assinaram o Termo de Compromisso de se adequar à lei de cotas foi realizada numa escola do Senai. Realizada no último dia 7 de maio, a apresentação contou com a presença de gestores de diversas indústrias ligadas ao Sinicesp, incluindo as 13 signatárias do Termo de Compromisso.
Na ocasião, um novo termo de compromisso foi assinado, visando a sensibilização de mestres de obras, comunicadores sociais e gestores, responsáveis pela contratação das equipes.