Em São Paulo, evento 34 anos da Lei de Cotas reúne vários setores e centenas de pessoas com deficiência em busca de emprego
Publicado em: 25/07/2025
No 24 de julho, foi realizado no auditório da sede do Ministério da Economia em São Paulo, o evento Trabalho: um direito de todas as pessoas, em celebração ao aniversário de 34 anos da lei de cotas para pessoas com deficiência. Além do evento, no mesmo andar da celebração foi realizada simultaneamente à 18a feira de empregos da Prefeitura Municipal de São Paulo, a Contrata SP.
O cerimonial do encontro foi feito por Marinalva Cruz, que divulgou o aplicativo Pardal como canal de denúncias contra o capacitismo. A abertura foi realizada pelo coordenador da Câmara Paulista para Inclusão, José Carlos do Carmo, Kal, que também foi mediador do painel com representantes das instituições: Ministério Público do Trabalho, Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, Secretaria Estadual da Pessoa com Deficiência, Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico e Trabalho, INSS e Superintendência do Trabalho.
Em suas falas, cada representante destacou pontos relevantes que ilustram as conquistas e desafios na inclusão de pessoas com deficiência no trabalho formal.

Representando o Ministério Público do Trabalho, Dra Ruth Silva, disse que são muitos os enfrentamentos, como as barreiras urbanas, como transporte e calçadas não acessíveis, e os obstáculos internos das empresas como falta de disponibilidade de tecnologias assistivas. “Mas as grandes barreiras continuam sendo as atitudinais, o capacitismo, que faz com que continuemos recebendo justificativas infundadas de que não há pessoas com deficiência qualificadas para o trabalho, e nós continuaremos abertos a receber denúncias sobre esse tipo de atitude.”
A Secretária Nacional da Pessoa com Deficiência, Anna Paula Feminella, deu enfoque na história de luta das pessoas com deficiência pelo direito ao trabalho como forma de alcançar uma vida mais digna. “São 34 anos da Lei de Cotas e 10 anos da LBI, duas leis que são resultado do empenho de centenas de pessoas que vieram antes de nós, e que recebemos esse legado para levar adiante. Tivemos o professor Romeu Sassaki, temos em São Paulo milhões de trabalhadores, instituições, sindicatos. Olhamos para os índices de empregabilidade e podemos dizer que são a pontinha do iceberg, e que abaixo da linha de visibilidade, estão a maioria que ainda nem teve acesso às políticas públicas. Não podemos deslocar a pauta da inclusão da pessoa com deficiência das demais pautas sociais, como a taxação das super fortunas.”

Silvana Gimenes, representante da Secretaria Estadual da Pessoa com Deficiência, informou que o Estado de São Paulo disponibiliza 17 polos que atendem 65 cidades encaminhando pessoas com deficiência para o trabalho. “Queremos acabar com a crença de que pessoas com deficiência são improdutivas, não têm competências ou instrução. Nos últimos 5 anos foram ofertadas 20.400 vagas, e nossos programas encaminharam 25.500 pessoas com deficiência. No entanto, somente 2.500 foram contratadas pelas empresas, devido ao imaginário preconceituoso que veta sua entrada no mercado de trabalho.”

A Secretária Municipal da Pessoa com Deficiência, Silvia Grecco, falou em seguida lembrando o quanto é necessário ser persistente para permanecer na luta pelos direitos das pessoas com deficiência. “São muitos anos de dedicação para ter direitos de cidadãos, para mostrar a importância da acessibilidade, de eliminar obstáculos, e de convencer que as pessoas com deficiência precisam de oportunidades. Não é fácil persistir, mas temos uma força que não dos deixa desistir, e o fato de estarmos aqui hoje, várias instâncias de Governo, independente de partido, pelo mesmo objetivo.”
O Secretário Municipal de Desenvolvimento e Trabalho, Armando Jr., disse que na cidade de São Paulo há cerca de um milhão de pessoas com deficiência buscando trabalho, e que o Estado cumpre 55% do exigido pela legislação. “Penso que o caminho é somar forças para cobrar das empresas, porque toda vez que abrimos vagas no CAT e no Contrata SP, as pessoas com deficiência se candidatam. Estamos realizando hoje a 18a edição do mutirão de empregos e somente das 8h às 10h da manhã, mais de 200 pessoas com deficiência já foram entrevistadas. As empresas precisam contratá-las.”
A Superintendente do INSS, Michele Reis Moreira, resgatou as falas anteriores reforçando a dificuldade enfrentada nas empresas por não providenciarem o ambiente adaptado e inclusivo. “Sou mãe de autista e é gratificante saber que tem tantas pessoas engajadas lutando por nós. Queremos que todos tenham oportunidade de trabalho porque um emprego pode significar fazer parte de uma comunidade, com todos os tipos de pessoas, vivendo em uma sociedade diversa. Ao empregar pessoas com deficiência a empresa fortalece estruturas familiares, desafia estereótipos. As pessoas com deficiência muitas vezes nem saem mais para fazer entrevistas porque estão cansadas de fazer todo o esforço para conseguir uma vaga, e quando contratadas logo são demitidas porque a empresa não providenciou adaptações condizentes com sua deficiência. O acesso ao emprego, à renda, significa autonomia, liberdade econômica.”

Fechando o painel, o Superintendente do Trabalho, Marcus Alves Mello, contou que seu filho é autista e que esse fato o motiva ainda mais a lutar pelos direitos das pessoas com deficiência. “Falar não para nós é mais difícil porque sempre vamos correr atrás do sim. Desde que assumi a Superintendência, há três anos, realizamos mais de 300 notificações de empresas, e neste ano de 2025 temos a grata satisfação de informar que o estado de São Paulo está recebendo o dobro de auditores fiscais, são novos 275 profissionais que entram para reforçar nosso time. Desse total, 45 são pessoas com deficiência.”
Após o painel de abertura, foi realizada a sessão de homenagem à personalidades engajadas à inclusão de pessoas com deficiência no trabalho. A primeira foi uma homenagem póstuma ao jornalista Luiz Carlos Lopes, recebida por sua esposa. Em seguida foram homenageados: Ariani Queiroz de Sá (Presidente do Presidente do Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa com Deficiência de São Paulo), Pamela Scafura (Presidente do Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo), Gilberto Almazan (Movimento Sindical), Regina Celi Vieira Ferro (Vice-Presidente da – Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão – TRT2ª região), Djalma Scartezini (REIS) e Carlos Aparício Clemente (Espaço da Cidadania).

A leitura da Carta Manifesto 2025 foi feita por Rick Ribeiro, conselheiro da EY, graduado em Administração Pública pela Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), com mestrado em Sustentabilidade pela Universidade Politécnica da Catalunha (UPC) e MBA Executivo pela Universidade de Barcelona (UB). Fundador da OSCIP Associação Abaporu e do portal Mobilize Brasil – Mobilidade Urbana Sustentável. Ele utilizou recursos de tecnologia assistiva para realizar a leitura.

“Calçada se tornou um muro.” O evento 2025 foi encerrado com um show carregado de afeto e significados, além da qualidade musical impecável, do rapper Billy Saga e sua família. As letras e melodias brindaram a todos os presentes, e demonstraram o momento de maturidade musical do artista.




Corpo Intruso, Billy Saga
A negação de uma parte da humanidade é sacrifício
Exercida desde antes do milagre do solstício
Um desperdício da condição natural
De uma parcela que ao me excluir se afirma universal
O bem o mal, o gordo o magro,
o alto e o baixo, o forte o fraco em pé ou sentado
São rótulos que mal usados negam independência
Causando entraves bem mais graves que a deficiência
Inteligência emocional pra não perder a linha
Pois inclusão só no discurso é ladainha
Então eu faço a minha, quebro a caixa, ressignifico
É magnifico que pro sistema eu sou atípico
Stéreo – tipo, eu aprendi a ser diferente
Agora já era, nova era, eu vou bater de frente
Com as barreiras que tentarem me impedir
Vou grafitar, dinamitar vou implodir
Cada atitude sua que me discrimina
Cada olhar seu naipe muralha da china
Por que o poder que nos oprime já não é externo
Nem vem de cima e sim de dentro, o nosso próprio inferno
Existencial estruturado em padrões
Voluntários capachos de um rol de opressões
Midiáticas da sociedade do espetáculo
O abraço do chacal esmaga com vários tentáculos (sinal globo)
Mas vim meter fogo na sua carapuça
E vomitar verdades em sua própria fuça
Desrespeitar limites, confrontar o sistema
Manifestar revoltas, vim causar problema
A hegemonia bípede, agora está fadada
A roda da cadeira na sua unha encravada
Linha de frente incômodo ser eu só tanta gente
Vou te prender no labirinto da minha mente
Sua soberania me causava medo
Mas eu matei, exorcizei, sentei o dedo
No centro da ferida de toda a esquisitice
Sai pelado passeando com Zuleika Brit
Grafitei calçadas de ruas onde nascia arruda
Tags subliminares contra auto ajuda
E do fundo do abismo os normais me olharam confusos
Eu que estava no topo, logo eu, um corpo intruso
Um incomodo, uma desordem, um estrangeiro
Um fora do contexto mesmo entre os maloqueiro
Estranho feio e frágil, um obtuso
Profano não colonizado, um corpo intruso
A sua piedade estéril não soa verdade
Nunca gerou o menor ato de humanidade
Eu que perdi o jogo então criei a própria regra
Eu que lidei com a solidão das minhas próprias pernas
Ao não achar saída eu nunca dei entrada
Eu que juntei os cacos da minha alma estilhaçada
Amei minha saudade e fiz dela o meu presente
Contrariei a piedade de toda essa gente
Calçada se tornou um muro então postei na rede
Acionei os grafiteiros pois sem rampa ela é parede
Eu suportei os golpes, eu nunca desisti
Fiquei de pé e muitos torciam pra eu cair
E mesmo com os sonhos quebrados em pedaços
Realizei o maior sonho, minha filha em meus braços
Sou diferente mas é pra fazer a diferença
Eu vou sorrir, vou caçoar, sou resistência
Vim pra honrar toda essa minha anomalia
Vendo o mundo sucumbir na hipocrisia
Vou seguir da minha maneira na minha cadeira
Rimar para permeabilizar cada fronteira
Vou rir da sua hierarquia de capacidades
Que é incapaz de refletir as minhas verdades
Não interage e pressupõe passividade
Inclusão que exclui, isola e é maldade
Os nossos ídolos ainda são os mesmos
Pedindo esmola nos faróis dessa cidade
Makiavélico ironizo a dificuldade
Fazendo dela a minha oportunidade
Sua soberania me causava medo
Mas eu matei, exorcizei, sentei o dedo
No centro da ferida de toda a esquisitice
Sai pelado na chuva, com Zuleika Brit
Grafitei calçadas de ruas onde nascia arruda
Mensagens subliminares contra auto ajuda
E do fundo do abismo os normais me olharam confusos
Eu que estava no topo logo eu, um corpo intruso