“Vivi capacitismo por todos os empregos pelos quais passei” 21 de setembro, Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência

Publicado em: 14/09/2023


Para proporcionar maior conhecimento sobre a data, o jornalista da Câmara Paulista pela Inclusão, Sergio Gomes, entrevistou Leandra Migotto Certeza, jornalista e ativista pelos direitos das pessoas com deficiência, e trouxe no final da reportagem um documentário sobre a história do movimento político social de pessoas com deficiência no Brasil, com 25 entrevistas. Conheça essa história.

Por Sergio Gomes, que escreve para o site da Câmara Paulista de Inclusão. Sérgio é também uma pessoa com esquizofrenia.

1- Você está há mais de 20 anos na luta pelos direitos das pessoas com deficiência. Nesse tempo quais foram as maiores dificuldades e que ainda persistem, além do capacitismo e do preconceito?

Leandra Migotto Certeza Quando trabalhei como jornalista, as poucas leis que já existiam não eram conhecidas e muito menos respeitadas e cumpridas. Hoje pouca coisa mudou e ainda falta MUITO para garantir a cidadania na prática das pessoas com deficiência no Brasil! Como ativista social desde 1996 eu vivi situações terríveis dentro dos órgãos públicos e até em associações que também eram dominadas por pessoas sem deficiência que não deixavam as pessoas com deficiência serem ouvidas! Assim como na minha época, a maioria das empresas de recursos humanos hoje, ainda não são comandadas por profissionais com deficiência, assim como empresas de outros setores. Falta protagonismo porque existe capacitismo e barreiras atitudinais, físicas e comunicacionais! Não se pode esquecer que ABSOLUTAMENTE todos os SERES HUMANOS podem adquirir qualquer situação de deficiência em qualquer milésimo de segundo! Todos os seres humanos estão sujeitos a acidentes de trânsito, violências, ou demais situações como o envelhecimento que as deixarão com sequelas para conseguirem ouvir, enxergar ou caminhar, por exemplo.

2- Sobre mercado de trabalho: quais foram suas maiores dificuldades para ingressar no mercado de trabalho e hoje como isso mudou?

Leandra Migotto Certeza Eu vivi situações de preconceito, discriminação e capacitismo em todos os empregos pelos quais passei. Os momentos mais dolorosos e que deixam marcas na minha vida, infelizmente, aconteceram dentro de grandes empresas que se diziam lutar por uma suposta ‘inclusão’; e até com empreendedores da área da inclusão que a pouco tempo me ofereceram funções incompatíveis com a minha formação e experiência profissional, além de pagar baixos valores ou pedir que eu escrevesse reportagens sem assinar o meu nome como jornalista!!! São situações que se repetem diariamente ainda! Eu sempre leio relatos de pessoas com deficiência que são convidadas para realizarem palestras e outros trabalhos voluntariamente ou com valores bem abaixo do mercado. Os jovens de hoje são discriminados exatamente como eu fui um dia. Terrível essa situação! Eu espero não morrer sem ver uma grande mudança de paradigma!  

3- Quais são as atitudes mais eficientes para garantir a inclusão de pessoas com deficiência na sociedade?

Leandra Migotto Certeza Acredito que a ação primordial que conduz a outras eficientes é o respeito ao protagonismo das pessoas com deficiência em absolutamente todos os setores da sociedade: saúde, pesquisas, educação, trabalho, política, cultura, esportes, lazer entre outras. Quando todas as pessoas com deficiência (física, auditiva, visual, intelectual, mental, surdocegueira e múltipla) foram ouvidas e respeitadas em todas as suas necessidades específicas, as demais ações de acessibilidade, inclusão e cidadania irão ser mais eficientes e constantes. E para garantir esse protagonismo das pessoas com deficiência no trabalho é preciso primeiro lutar por um sistema educacional verdadeiramente inclusivo em toda a rede de ensino no Brasil.

4- O que significa o 21 de setembro – Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência hoje, depois de mais de 40 anos de lutas, novas legislações e novos ativistas também nas redes sociais?

Leandra Migotto Certeza O que ainda persiste hoje é o não cumprimento do lema das pessoas com deficiência: “Nada sobre nós, sem nós”!! E para isso, as pessoas sem deficiência precisam lutar junto com quem tem deficiência para serem anti capacitistas todos os dias do ano e não só nas datas comemorativas, como o Dia Nacional ou Internacional de Lutas das Pessoas com Deficiência.   

Os movimentos das pessoas negras com deficiência e das pessoas LGBTQIAP+ com deficiência, conseguiram serem vistas por meio das redes sociais como seres humanos que lutam diariamente por seus direitos! Porém ainda falta muito para garantir que a interseccionalidade da deficiência com etnias, gêneros, idades, por exemplo, façam parte das políticas públicas com lugar de fala para quem mais necessita ser ouvido e respeitado!

Para conhecer a carreira de Leandra Migotto Certeza, mulher com deficiência física, poeta, escritora, ativista social desde 1996 e idealizadora da Coletiva Girassol – Protagonismo das Escritoras com Deficiência:

https://www.linkedin.com/in/leandra-migotto-certeza-00a12141/

“Eu era merecedor de caridade mas não de cidadania”. Conheça a história dos Movimentos Políticos e Sociais das Pessoas com Deficiência no Brasil. Lançado em 2010, o documentário HISTÓRIA DO MOVIMENTO POLÍTICO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO BRASIL, de Aluizio Salles Junior/Fazenda Filmes, é uma produção da Organização dos Estados Ibero-americanos – OEI e da Secretaria de Direitos Humanos, na gestão da secretária Izabel Maior. A partir da memória e da documentação de 25 ativistas pioneiros, pessoas decisivas para as conquistas, que refizeram o percurso árduo de um segmento socialmente invisível.

É preciso falar sobre anticapacitismo com qualificação! E existem pessoas com deficiência que fazem esse trabalho de conscientização com brilhantismo, como a Janela da Patty: @janeladapatty

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