Legado paralímpico evidencia que acessibilidade é possível e fundamental

Publicado em: 03/10/2016


O maior legado que os jogos paralímpicos podem deixar ao Brasil é a mudança cultural e a conscientização quanto às capacidades e qualidades das pessoas com deficiência. E o maior desafio continua sendo a acessibilidade mais ampla nas cidades – principalmente em relação às calçadas, pois não há como utilizar transportes e chegar aos locais sem passar por elas. Estas afirmações são resultado das análises feitas por especialistas em inclusão e por pessoas com deficiência ativas na defesa da mobilidade.

Mila Guedes, 45 anos, publicitária e idealizadora do Milalá, projeto que estimula quem tem mobilidade reduzida a passear, viajar e curtir, esteve na Rio 2016 e deu seu parecer sobre o legado paralímpico. “Foi incrível ver o meu país com tanta vida neste período. Refiro-me às pessoas com deficiência nas ruas, arenas, parques, praias, restaurantes… Pessoas aplaudindo, aprendendo o tempo todo. Era um clima muito bom,  humano, rico em respeito, em inclusão. Em vida. Me senti orgulhosa, caminhava de cabeça erguida, não lembrava o tempo todo das minhas limitações. Senti carinho e respeito, vi as crianças me olharem sem que a diferença se destacasse entre nós, era  o mundo ideal. Para quem estava lá, com certeza, seremos vistos de um jeito novo, possível a partir da Paralimpíada 2016. Espero muito que esse tenha sido o nosso maior legado. Valeu”!

Derrubar barreiras atitudinais e  desmistificar o cunho pejorativo da deficiência é a grande colaboração tanto das Paralimpíadas como da Lei Brasileira de Inclusão (LBI) que também tem levado as empresas a se equipararem para melhor receber estas pessoas nos espaços públicos.

Num passado não muito distante, era comum o uso de termos pejorativos para se referir às pessoas que nasceram com alguma deficiência ou que a adquiriram ao longo da vida, em função de acidentes ou doenças. Com a regulamentação da LBI, isso mudou: hoje discriminação à pessoa com deficiência é crime. “Espero que tudo o que vivemos nas Paralimpíadas se repita na vida real, com cidades acessíveis, melhores atitudes e, principalmente,   seres humanos mais compreensivos uns com os outros”, completa Viviane.

Além de  melhorias nas políticas públicas, locais mais acessíveis e aceitação  das pessoas,  outro legado que certamente foi deixado pelos Jogos Paralímpicos é a inspiração que os atletas passaram  às crianças com deficiência, de buscarem o esporte como parte da vida delas. E também serviu para tirar o estigma e mostrar a capacidade do ser humano de brilhar como atleta, mesmo com as características de cada um.

Mila está numa cadeira de rodas motorizada, em frente a um VLT Carioca (Veículo Leve sobre Trilhos), transporte público acessível, que levou o público ao estádio do Engenhão, onde alguns jogos foram realizados durante a Rio 2016. Ela sorri, veste camiseta roxa, calça e sapatos pretos. e carrega mochila em sua cadeira.

Mila a caminho do Engenhão para assistir aos jogos Paraolímpicos

Visibilidade e  acessibilidade continuarão sendo  pautas indispensáveis de políticas públicas. “Estive em dois jogos-  Futebol de 5 (pessoas cegas) e  Rugby (cadeira de rodas), senti muita emoção em participar, vivenciei emoções no Parque Olímpico, que estava com um clima delicioso. Deixou um sabor  de “quero tudo isso novamente”, disse Viviane Garcia,  as grandes competições que o Brasil sediou desde 2014 representaram oportunidades únicas para instalar as benfeitorias há muito necessárias.

E que tudo se repita na vida real, com melhores atitudes, cidades
acessíveis e principalmente seres humanos mais compreensivos uns com os outros. Mas os ganhos na circulação urbana, programados para os Jogos,  provavelmente só estarão consolidados no final de 2017, se não houver  interrupções nas obras. A arquitetura do desenho universal, que tem como princípio desenhar a cidade pensando nas pessoas com suas variações de tamanho, peso, doença, deficiência e mobilidade teria sido um ponto positivo deixado pelos Jogos Paraolímpicos.

A acessibilidade arquitetônica é um passo no exercício pleno da cidadania da pessoa com deficiência em todos os espaços, para que tenham liberdade de ir e vir, sejam quem elas quiserem, alcançando com autonomia serviços públicos como educação, saúde, esporte e cultura.

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