Pesquisa confirma preconceito decorrente de falta de informação sobre as pessoas com deficiência
Publicado em: 21/12/2017
O tema é recorrente na pauta das empresas, mas precisa avançar, e muito, para que o Brasil figure entre países inclusivos de pessoas com deficiência. O preconceito ainda domina o mundo corporativo, conforme apontou a quarta edição da pesquisa Expectativas e Percepções sobre a Inclusão de Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho, realizada pela consultoria i.Social com apoio da ABRH-Brasil, ABRH-SPe Catho. Recém-lançado, o levantamento 2017/2018 traz, de forma inédita, três visões sobre o assunto – a dos profissionais de Recursos Humanos (1.240 entrevistados), a das pessoas com deficiência (1.091) e a da alta liderança (117) – com o objetivo de identificar os desafios, as conquistas e as melhorias a serem implementadas no processo de inclusão.
Convergência
De acordo com o levantamento, 93% das pessoas com deficiência, 89% dos RHs e 90% dos líderes entendem que ainda faltam informações sobre o tema no dia a dia das organizações. Para Jaques Haber, sócio da i.Social, esse dado explica o baixo número de contratações, assim como a baixa qualidade das vagas oferecidas. “A pesquisa mostra claramente onde está o problema. A falta de informação gera o preconceito de achar que a pessoa com deficiência é menos produtiva do que a não deficiente. Isso faz com que as contratações sejam motivadas apenas pelo cumprimento da Lei de Cotas (lei 8.213/91) e não porque o RH e as lideranças enxergam o potencial dos profissionais e o valor da diversidade para a empresa. Em consequência, as oportunidades oferecidas são, na grande maioria, de pouca qualificação. Criamos, assim, um círculo vicioso, que só vai ser transformado com investimentos em aculturamento interno”, afirma.
Os números apontam que, de fato, para os três públicos, a oferta de vagas é pequena, de baixa qualidade e visa, explicitamente, ao cumprimento da lei, em detrimento de fatores estratégicos para a carreira e para os negócios. Conforme mostra o gráfico, poucos são os líderes e RHs que contratam pessoas com deficiência por acreditar no seu potencial, apostar no seu perfil ou por valorizar a diversidade. E essa também é a percepção das pessoas com deficiência .
Expectativa x realidade
A presumida baixa qualificação dos profissionais com deficiência não é confirmada na pesquisa. Ao serem questionados sobre a escolaridade, 32% disseram ter ensino médio; 21% se formaram em nível superior; e 12% fizeram ou estão fazendo pós-graduação – no total, 57% estão em alguma etapa do chamado 3º grau.
Também chama a atenção a diferença sobre aquilo que é considerado atrativo para a pessoa com deficiência na hora de aceitar ou não uma vaga. De um lado, RHs e líderes elegeram acessibilidade, sensibilização das equipes e programa estruturado de inclusão, nesta ordem, enquanto os profissionais com deficiência afirmaram ser, em primeiro lugar, o salário; em segundo, o plano de carreira; e, em terceiro, o pacote de benefícios. Presidente da i.Social, Andrea Schwarz, que sente na pele as dificuldades – ela é cadeirante –, concorda com Jaques: para mudar o cenário da empregabilidade das pessoas com deficiência, é preciso uma mudança na mentalidade das empresas. “A diferença de perspectivas dos públicos evidencia a necessidade de uma comunicação mais integrada para a melhoria dos processos”, salienta.
Pela ABRH-Brasil, Jorgete Leite Lemos, diretora de Diversidade, chama a atenção para a reincidente citação de despreparo do profissional de RH, mas ressalta que não dá para esquecer que a formação acadêmica – em geral nas áreas de Administração, Psicologia, Pedagogia, Serviço Social, Comunicação, Medicina Ocupacional e Segurança do Trabalho, entre outras – não inclui o tema Diversidade e, assim, não o prepara para a inclusão. Ela faz um convite a todos – alta direção, RHs, gestores e líderes: “A inclusão de pessoas com deficiência no trabalho não depende apenas do conhecimento que temos sobre o assunto. Depende muito mais de nossas atitudes, do querer fazer acontecer, o que não precisa ser justificado nem legislado, pois é dos Direitos Humanos. Direito de ser o que se é e ter a dignidade preservada pela promoção da igualdade com equidade. Convido-os para alocar os maiores e melhores esforços nessa causa, pois é uma causa de todos nós”.
Fonte: http://blog.isocial.com.br/wp-content/uploads/Jornal-ABRH-02-11-2017.pdf
Por Stela Masson, 14/12/2017