Mês da Consciência Negra traz também uma reflexão sobre as luta das mulheres negras com deficiência

Publicado em: 23/11/2023


Shirley Menezes

Por Sergio Gomes para o Site da Câmara Paulista para Inclusão

Entrevista com a psicóloga Shirley Meneses

Novembro é dedicado à conscientização sobre a população negra, tornando essencial destacar as questões relacionadas a um dos segmentos mais vulneráveis em nossa sociedade: as mulheres negras com deficiência. Neste contexto, é crucial enfatizar o ativismo desse grupo, um ativismo que busca garantir autonomia, representatividade e direitos fundamentais. Além disso, a luta envolve desmantelar os diversos estigmas associados às mulheres negras, especialmente quando ocorre a intersecção desses fatores com a deficiência(as).

Alguns números  da violência no Brasil leva a entender melhor a situação de vulnerabilidade em que mulheres negras com deficiência estão: um levantamento feito pelo movimento Vidas Negras com Deficiência Importam (VNDI) mostra que 42,9% das mulheres negras com deficiência estão mais vulneráveis a sofrer violência, de acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) em 2022, no Brasil, foram registradas 11.979 notificações de violência contra pessoas com deficiência e desse número 51,6% das vítimas eram pessoas pretas e pardas. Durante a pesquisa para esta matéria percebeu-se que há uma grande escassez de dados específicos sobre a violência contra o grupo composto por mulheres negras com deficiência no Brasil, e isso é mais um dos reflexos do racismo, do capacitismo e da invisibilidade que essa parcela da população está sujeita.

 As intersecções entre mais de um fator que costumam levar a discriminação e podem transformar a vida de mulheres negras com deficiência em uma rotina de sofrimento e com desafios únicos. A psicóloga Shirley Menezes descreve um pouco desse sofrimento e desafios diários: “Os atravessamentos enfrentados diariamente são infinitos, considerando que resido em uma cidade com fortes raízes racistas e capacitistas. Onde o preconceito não é velado, mas escancarado. O desafio é sobreviver, no que diz respeito a ter o básico respeitado e garantido, e também no sentido da saúde mental. Considerando que o discurso que me deparo diariamente é que, ‘todos somos iguais’, mesmo quando o direito de acesso é retirado de mim todos os dias quando chego ao meu trabalho e meus gestores referem que a falta de acessibilidade no meu local de trabalho, não vai interferir em nada em eu manter meu horário se eu me organizar e sair mais cedo da minha residência, visto que estou como servidora pública atualmente. E o desafio é maior quando estou em período de experiência sendo avaliada, quando vou para o processo de probatória e tenho descontos em minhas avaliações, por atrasos de 1 minuto, visto que para chegar ao relógio de ponto, preciso subir 3 degraus. E quando questiono essa barreira, sou orientada a mudar minha rotina, para chegar mais cedo no trabalho. Considerando que passo 6 horas diárias dentro do trabalho sem poder usar o banheiro. Considerando o tempo de me arrumar e de deslocamento para ir e voltar do trabalho, passo em média 10 horas por dia sem usar o banheiro. E a intersecção está também quando sou cobrada pela família, amigos, colegas de trabalho e pela sociedade a ser uma mulher forte, que não deve desistir e nem se revoltar contra um sistema que fomenta meu pensamento suicida diariamente”.

Além das desigualdades e das dificuldades encontradas no dia a dia, outro desafio comum para pessoas com deficiência é a solidão e o isolamento social. Em especial, mulheres negras com deficiência têm altas chances de enfrentar essa questão e Shirley conta: “Por muito tempo via o isolamento social que enfrentava no dia a dia, considerava como uma questão minha, como uma falha pessoal. E demorei muito para identificar como sendo preconceitos, pelo fato de ter uma deficiência e na vida adulta por questões raciais. Na infância me deparei com o capacitismo, quando as crianças não me convidavam para as festas de aniversário por exemplo. Ou na adolescência que os meninos diziam que eu seria a última mulher do mundo com quem eles iriam se relacionar. E atualmente, quando as pessoas verbalizam que eu não tenho cara de psicóloga. A estratégia é o conhecimento e terapia, como forma de lidar com as emoções negativas e a angústia que tudo isso possa causar”.

Sobre o ativismo e sua importância Shirley comenta que tem se envolvido mais para ela se se envolver de forma efetiva devido à falta de acessibilidade nos espaços de luta desses grupos “O ativismo como sendo a única forma de promoção de igualdade e justiça na nossa sociedade é uma das principais ferramentas de conquistas de espaços e empoderamento de grupos em vulnerabilidade social” finaliza Shirley.

Links:  1ª Palestra –Projeto Arte em Formação—Conhecimento para a vida

             A Mulher Preta com Deficiência: impactos da intersecção–Shirley Aparecida Rocha Menezes

Fontes: https://www.scielo.br/j/rk/a/RHprbDRJTmdxg8Pqjmbxnpg/

Mulheres com deficiência: violência e invisibilização (fjp.mg.gov.br)

ARTIGO: Os desafios do racismo e um sopro de esperança | As Nações Unidas no Brasil

Violência contra mulheres negras: a invisibilidade que mata – Fundo Brasil

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